OS ETERNAMENTE BONS
Amanhecendo.....
Uma brisa fresca, num dia claro.......
E eu aqui, estática...............
Eu aguardo - o sol - a chuva - o bicho - o homem.
Sirvo sem distinção - sem emoção.
Estou aqui em missão.
Observo passar a luz e a escuridão.
Do vermelho ao azul do cinza ao negro.
Fico seca - sinto a umidade - molhada eu pingo.
Tenho pés firmes com dedos fortes.
Abraço e racho com força a rocha profunda.
Mergulho bem fundo na água do mundo.
Vivo da Terra - transformo ela - retorno a ela.
Sirvo o mundo - seja noite - seja dia.
Eles chegam e partem como se EU fosse um mercado.
Tenho corpo e belos braços.
Meus dedos são pequenos ou grandes - duros ou delicados.
Quase sempre verdes - nem sempre assim.
Todo ano fico bonita e rica.
Oferto de graça aquilo que tiro do ar - da água - da rocha escura.
É só chegar - pular - subir - colher. Ou deitar e esperar cair!
Mas este não é o meu pesar!
Este não pode ser o meu reclamo!
Pois amo viver por esta razão!
SÃO ELES...…
Arrancam meus dedos em desespero,
meus frutos não maduros e meus braços imaturos.
POR QUÊ? PARA QUÊ?
Atiram o meu corpo ao solo sem pensar!
Uma sombra fresca a menos só pode incomodar!
Para no fim, nada de bom surgir de mim.…
Mas nada falo - nada digo por este castigo.
O único som que de mim escuto, não é de mim um produto.
É o som da machada em meu corpo...
A cada golpe carne minha se desprende e uma vida vai morrendo.
Vou ficar ali, deitada, bem quieta. Desidratando em silêncio enquanto a seiva fluir.
Em seguida vou secar - vou morrer. Com sorte uma semente vai sobreviver.
Enquanto relaxo e durmo, eu serei o adubo de meus parentes e de minha semente.
Sem raiva nem choro, mas reconheço minha vida de quase dor.
Não vejo, não falo, não sinto. Não me mexo, estremeço ou reajo.
Sempre crescendo e amadurecendo. Florindo, parindo e semeando.
Servindo a todos com de tudo um pouco.
Tenho por fim um fim. E talvez um começo em novo endereço.
Convenhamos, o nosso mundo é vasto e infinitamente variado...
"E eu sou apenas uma das vidas que doa vida sem se importar com a própria vida!"
Antonio Angelo
Cafezinho do zap-zap - Projeto traduções
Maceió, 09/11/2016