- Categoria: Contos Galácticos
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O Clone
Neste mês trazemos um conto “resgatado” da lista de Perry Rhodan no Yahoo… Antes que o Yahoo acabe definitivamente… Esperamos que gostem e que esse conto tenha ficado ao agrado do autor, Claudiney Martins, que infelizmente não conseguimos contato…
O Clone
Em um antigo planeta arcônida, durante o segundo ciclo.
Personagens principais deste conto:
Perry Rhodan – Administrador Geral do chamado Império Solar da Humanidade
Gucky – Um alienígena de um pouco mais de um metro, parecido com um rato e com um único dente que lembra um castor. É um dos mais poderosos aliados da Humanidade. Tem os poderes de telepatia, telecinese e teleporte. É muito brincalhão.
Arcônidas – Raça alienígena que já teve um gigantesco império onde a Terra foi uma colônia. Hoje é decadente e governada por um gigantesco cérebro positrônico.
Aras – Raça descendente dos arcônidas e inimiga da Humanidade. São especialistas em medicina.
— Quanto tempo demorara? — perguntou o capitão Larry Kerkov. Homem alto e forte. Sentia-se completamente desconfortável no interior daquele túnel de pedras.
Além do aperto, eles tinham que utilizar o traje espacial completo, pois a tênue atmosfera do planeta não era respirável, além de ser quente demais. Estavam à sombra, no subsolo de uma pequena montanha, mas a temperatura externa passava dos sessenta graus.
— Creio que uns vinte minutos. — respondeu Jean Clidows. Sujeito falastrão de estrutura frágil. Suas pernas e seus braços longos davam a impressão de completo desalinho, o que não era de todo errado. O sujeito era desastrado em seus movimentos e os óculos que usava não ajudavam na aparência.
Jean Clidows era tenente e semimutante, isto é, um mutante de poderes não muito fortes, mas que estavam sendo aproveitados na Frota Solar como membros dos Grupos de Operações Especiais, o GOPE. Formavam-se estes grupos com o objetivo de liberar os integrantes do Exército de Mutantes para operações supostamente mais importantes.
— Vou verificar se tem alguma armadilha de quinta dimensão — continuou o semimutante.
Larry ficou observando enquanto Jean se concentrava e virava o seu rosto com os olhos fechados em direção à parede metálica de uma antiga base. Como o semimutante havia lhe descrito, naquele instante ele enxergava os campos de quinta dimensão. Tudo aparecia como em raio-X, mas em cores verdes e em uma semitransparência na mente do mutante, até uma distância aproximada de quinze metros. Eram os hipercampos que todos os materiais possuem, mas as máquinas que a utilizam concentram em tal quantidade que elas aparecem em tonalidades de amarelo a vermelho para Jean.
Cansou de observar o trabalho do tenente. O capitão Larry já o tinha visto em ação inúmeras vezes nos treinamentos e virou para os outros dois integrantes do 13º GOPE. Miguel Lourenzo era um sul-americano de feições indígenas; atarracado, forte e dono de uma personalidade extremamente prática. Sempre bem disposto e bem humorado. Nunca discutia uma ordem dada, mas volta e meia dava sugestões que surpreendiam pela perspicácia. Fora ele que descobrira o túnel na montanha que os levara até a parede da base Ara.
Jordan Tegon era um francês enorme e muito forte. Maior que o capitão, fazia figura cômica naquele apertado túnel. Não tinha uma inteligência invejável, mas sua pontaria era certeira. O capitão resolveu convocá-lo para o GOPE, pois além desta qualidade ele tinha duas condecorações por atos heroicos.
— Temos uma máquina a cinco metros à direita — disse Jean, ainda concentrado. — Ela trabalha com hiperenergia, não parece ser uma armadilha. No nível abaixo vejo alguns campos hiperenergéticos, mas estão quase fora do meu alcance. A parede não apresenta nenhum sinal de hipercampos.
As informações de um semimutante nem sempre eram confiáveis. O capitão Larry Kerkov era o responsável por tomar as decisões a partir delas. Se confiasse nas informações do tenente, poderiam abrir um buraco na parede da base para invadi-la. Isto se aquela parede fosse mesmo da base e não alguma outra construção, já que caminhar por cavernas apertadas poderia deixar o indivíduo desorientado. Depois de entrarem na base ara, provavelmente acionando algum tipo de alarme, eles teriam que descobrir o laboratório onde supostamente a raça descendente dos arcônidas, especialista em medicina e afins, estava tentando clonar uma importante personalidade do Império Solar da Humanidade. Os aras haviam conseguido um pedaço de tecido desta pessoa, mas ninguém sabia de quem. A primeira missão do grupo tinha uma importância vital para o Império. Entretanto havia outro problema.
— Prestem atenção — solicitou Larry. — Temos pouco mais de uma hora de oxigênio. Vocês sabem que é justamente o suficiente para chegarmos ao local de encontro dois onde uma nave de apoio nos recolherá. Contudo, fui designado para uma missão e pretendo cumpri-la, apesar da pouca possibilidade de sucesso. Não peço, muito menos ordeno que me sigam. Pelo contrário, estou liberando oficialmente todos da missão, para que salvem suas vidas. Para os que resolverem me acompanhar não posso prometer nada, apenas dar a escassa esperança de, uma vez encontrado o laboratório, identificado e roubado a amostra de tecido, buscarmos tanques de oxigênio ou mochilas recicladoras aras para termos ar respirável e desta maneira alcançarmos o ponto de encontro três.
— Estou com o senhor, chefe — falou Miguel de imediato. Como sempre o mais espontâneo.
— Vocês não iriam longe sem os meus poderes — disse sorrindo o semimutante e sem dar tempo, virou para Jordan e perguntou: — E você, João Grandão? Vai ou não vai?— E você, João Grandão? Vai ou não vai?
O francês não respondeu. Ou melhor, respondeu com ação. Levantou o pesado fuzil energético e apontou para a parede da base. Jean, que estava entre a arma de Jordan e seu alvo, moveu-se com uma agilidade que surpreendeu Larry, posicionando-se atrás do grupo. Vinte minutos depois uma lufada de ar soprou em direção ao grupo erguendo poeira no túnel. Um buraco de meio metro de diâmetro tinha sido aberto na parede. Sem perda de tempo, Jordan forçou seu grande corpo pela pequena abertura. Miguel foi em seguida e Larry deixou Jean por último. Era a ordem que sempre seguiam nos treinamentos e agora era posta em prática pela primeira vez. A manobra tinha a intenção de preservar a vida do integrante especial do grupo.
Larry quase foi atropelado por um robô de manutenção que se apressava a chegar ao buraco aberto na parede. Ele escutou pelos alto-falantes de seu capacete o sinal que sabia ser de alarme. Não demorou muito e começaram aparecer os robôs de guerra que deviam fazer a vigilância da base. Sem tempo a perder, ele deu a ordem de avançar pelo longo corredor que estavam. Seguindo o padrão militar de avanço e cobertura, tendo sempre à retaguarda o tenente Jean, eles avançaram rapidamente, graças também a falta de organização dos robôs de guarda aras que atacavam individualmente. Logo os robôs cessaram o ataque e recuaram. Aparentemente tinham notado que seu contra-ataque era infrutífero e resolveram se agrupar antes de atacar novamente. Eles não usavam armas pesadas, provavelmente para não destruir as instalações.
O capitão Larry não perdeu tempo.
— Jean, veja o que tem abaixo de nós — ordenou. — Miguel, tente abrir uma das portas. Os robôs de manutenção já fecharam o vazamento de ar e as portas já devem estar liberadas.
Logo Jean forneceu o seu relatório: — Muitas máquinas trabalhando com hiperenergia. Devem ser os geradores da base.
— Muitas máquinas trabalhando com hiperenergia. Devem ser os geradores da base. — Ótimo — disse Larry. — Se os geradores estão logo abaixo de nós, estamos no andar principal da base, já que os aras têm o costume de construírem suas bases com os geradores por baixo e os laboratórios principais no piso imediatamente superior.
Enquanto Jordan, deitado no chão, dava certeiros tiros nos robôs que avançavam agora em bloco, Larry entrou no laboratório que Miguel Lourenzo havia aberto. Ele mantinha três cientistas aras sob a mira de sua arma. Logo os aras foram trancados em armários, não sem antes apontar, após ameaças nada sutis, onde ficava o laboratório de clonagem.
Avançaram até a porta do laboratório indicado que ficava bem próximo. Miguel e Jordan se deitaram no chão atirando sem cessar nos robôs que não se importavam com as terríveis perdas que estavam tendo. O ar do corredor foi ficando escuro e irrespirável e os terranos tiveram que fechar seus trajes novamente. Jean e o capitão Larry entraram no laboratório procurado.
— Como vamos encontrar a amostra de tecido neste mar de armários? — perguntou Jean embasbacado. — Temos alguma ideia do que temos que encontrar?
— Procure nos refrigeradores por um recipiente retangular transparente — respondeu o capitão já com as mãos na obra.
Os minutos foram passando e a luta fora do laboratório foi tornando-se mais dura.
— Como está aí fora, Miguelito? — perguntou Larry pelo rádio.
O capitão era o único que o boliviano permitia chamá-lo daquele jeito, mas sentia-se desconfortável da mesma forma.
— Podemos segurar mais uns minutos — respondeu o sul-americano —, então teremos que recuar ou usar granadas.
A busca continuou com mais pressa. Alguma coisa incomodava Larry naquela história toda. Se ele tivesse tempo para pensar... Mas tinha que procurar com rapidez nos inúmeros refrigeradores do laboratório. Jean tinha passado para uma sala ao lado e o capitão torcia que ele tivesse mais sorte.
— Ratos me mordam, capitão! — berrou pelo rádio o semimutante. — O senhor não vai acreditar no que eu encontrei! E também não vai gostar nem um pouquinho.
— Fale logo, homem! Encontrou o tecido?
— Mais do que isto, capitão. Encontrei um ser clonado inteirinho e duvido que o senhor adivinhe de quem era a "fôrma" que estávamos procurando.
O comandante do primeiro GOPE estava a ponto de perder a paciência com o tenente, porém se esqueceu de qualquer reprimenda que pretendia dar ao ver o ser dentro de um tubo transparente.
— Essa não! — disse Larry apenas.
— O que vamos fazer, chefe? Já pensou se os aras conseguirem uma aberração desta? Um Gucky amigo já é um problema, imagine um como inimigo?
— Não temos como levar o clone. Vamos destruí-lo com os fuzis, armar as bombas e cair fora. De qualquer forma já sabemos de quem eles possuem o tecido. Atire nele enquanto armo as bombas que destruirão a base.
Jean mirou na cabeça do clone que estava dentro do tubo transparente. Por um momento achou que o nariz do clone de Gucky tinha mexido, intrigado, baixou a arma e olhou. Sua mente devia estar lhe pregando uma peça. Voltou a mirar e quando pensou em atirar o clone abriu os olhos. Jean não conseguiu evitar a surpresa e acabou dando uns passos para trás e esbarrando no capitão que, abaixado, jogava uma das bombas sob uma bancada.
— Cuidado tenente!
— Senhor, o bicho está vivo!
Larry sentiu tensão na voz de Jean e levantou-se verificando que os olhos do clone estavam abertos.
— Atire! — berrou ele.
Jean atirou quase que de imediato, mas foi em vão. O rato-castor clonado piscou um dos olhos e sumiu. Um barulho alto de estouro de espumante se fez ouvir, quando o ar preencheu o espaço que o clone estava, no mesmo instante que o raio da arma de Jean atingia o local.
— Droga, tenente! — berrou o capitão. — Você demorou! Agora a nossa chance é que as bombas destruam este local e levem o clone do Gucky junto.
Antes de saírem da sala, armaram mais algumas bombas, mais do que suficiente para destruir toda a base. Esconderam-nas o suficiente para dificultar sua localização. Do lado de fora, lançaram uma granada explosiva que destroçou o laboratório e tornou quase impossível localizar as bombas a tempo de desarmá-las. Desta maneira, garantiram que a base iria pelos ares.
No corredor, as coisas estavam pretas, literalmente. Miguel e Jordan tinham começado a usar as granadas e não se via os robôs devido a fumaça negra que tomava conta de tudo. Recuaram sem muitos problemas até o ponto onde haviam entrado. O remendo feito às pressas pelos robôs de manutenção era mais fraco que a parede e Jordan não levou cinco minutos para abri-lo novamente. Sem dificuldades, saíram da base e percorreram a caverna de volta até sua saída. Substituíram suas garrafas de ar pelas que pegaram na base e que, por terem o mesmo encaixe das garrafas dos arcônidas, podiam ser usadas sem problemas de conexão.
— Muito bem — disse o capitão Larry. — Vamos afastar-nos o mais rapidamente possível da base. A explosão será grande.
Falar era fácil, mas movimentar-se rápido em uma gravidade baixa era um problema. Eles tiveram que desligar os gravitadores, pois a temperatura externa sob o sol estava acima de 150 graus centígrados, o limite que suportava o traje espacial. Desta maneira economizavam energia que podia ser aproveitada para refrigerar o interior. Mesmo assim, a temperatura interna atingia o incômodo patamar de 48 graus, o que tornava a respiração um ato de autoflagelação. Pelo mesmo motivo não haviam trazido as mochilas de voo. Tinham que percorrer dez quilômetros para chegar ao local de encontro, mas antes teriam que se proteger da explosão. Ela jogaria boa parte da montanha na qual a base estava encravada para os céus. O risco que um grande pedaço desta montanha caísse em cima deles não era desprezível.
Com um olho no terreno e outro no cronômetro, eles avançaram. O cansaço os atingiu quase que de imediato, quando ainda estavam a poucas centenas de metros da caverna da qual haviam saído. A água era consumida em grandes quantidades, na esperança que ela pudesse fazer o que o sistema de refrigeração não conseguia. Quando faltava menos que um minuto, Larry dirigiu o grupo para uma cratera pequena e profunda, que podia oferecer alguma proteção. Ele não se enganou, pois sabia que estavam muitos próximos da base e o grupo corria o risco de ser atingido pelos destroços.
Depois de se acomodarem em uma das encostas da cratera, Larry passou a informar o tempo restante para a explosão.
— Faltam vinte segundos!
— Eu queria que a minha água estivesse mais fria — comentou Jean.
Silêncio.
— Faltam quinze segundos!
— Que calor — reclamou Jean.
— Dez segundos. Nove...
Um movimento na borda da cratera. Antes que os quatros terranos tivessem tempo de olhar para cima um objeto rolou encosta abaixo. Para o espanto de todos eles reconheceram o objeto imediatamente: uma das bombas armadas na base ara.
— Sete. Seis...
O pavor foi ainda maior quando notaram que a contagem regressiva era agora feita por um pequeno ser. Ele estava na borda da cratera e lançara a bomba para dentro dela. Apesar do traje espacial a figura era bem conhecida.
— Gucky!! — disseram todos.
Na verdade o clone dele que ironicamente terminava a contagem.
— Quatro. Três. Tchau, tchau.
Com a teleportação do clone do rato-castor, os olhos do grupo se voltaram para a bomba no fundo da cratera. Nunca se soube o que os demais pensaram naquele instante, mas Larry se lamentou de falhar logo na primeira missão e fechou os olhos em uma defesa instintiva totalmente inútil.
Demoram alguns segundos para notar que não haviam morrido. A bomba não explodira. Larry foi o primeiro a recuperar o controle de si.
— Todos para fora da cratera! — berrou ele. — Rápido!
Em poucos segundos passavam por sobre a borda para darem de cara com um rato castor de olhos arredondados brilhantes e dente solitário a amostra pelo visor do capacete. Uma clara indicação que ele se divertia muito com tudo aquilo.
Os quatro homens pararam imediatamente. Jean e Jordan ergueram suas armas e apontaram para o rato-castor que não conseguiu mais conter a gargalhada.
— Baixem suas armas — ordenou Larry.
— Você está louco — protestou Jean. — Temos que matar o clone.
— Ouça o capitão, tenente — disse o rato-castor em meio às risadas que aos poucos foram parando. — Ele já entendeu o que aconteceu.
— Eu também — falou o tenente semimutante, sem baixar a arma. — Não sei como você descobriu as bombas e as desarmou. Mas agora quer brincar conosco antes de nos entregar para os aras. Porém, não vou servir de cobaia para estes açougueiros galácticos.
Tentou apertar o gatilho, mas ele não se mexeu. O rato-castor segurava a alavanca de disparo com sua telecinese.
— Pare com isto, tenente Jean — ordenou novamente o capitão. — Deixe o tenente Gucky explicar.
— Obrigado Larry. Como você já descobriu tudo não passou de um teste para medir a determinação do grupo antes de colocá-los realmente em serviço ativo. O clone na verdade não era ninguém mais do que eu mesmo em brilhante atuação, não acham? Para que não haja confusão eu vou repetir: não existe nenhum clone e tudo não passou de um teste. Os aras da base eram robôs, a base ara é uma antiga base arcônida há muito tempo abandonada. Estamos no planeta Porta do Inferno, que hoje é um posto avançado do Império Solar e não em um planeta deste povo. Posso adiantar que vocês passaram no teste e espero por vocês na nave IGARA que está pousando no ponto de encontro. Vamos comemorar com muito suco de cenoura. Eu pago. Espero por vocês lá.
Gucky se teleportou. O cruzador ligeiro IGARA já descia no planeta. Jean e Jordan estavam ainda boquiabertos com tudo o que o rato-castor havia dito, mas ele não tinha terminado ainda. Reapareceu na frente do grupo, o que fez com que Jean e Jordan erguessem instintivamente seus fuzis mais uma vez. Gucky falou com o seu grande dente roedor se destacando:
— Espero principalmente o senhor, tenente Jean. Quero que me explique o que quis dizer com "um Gucky amigo é um problema" e a sua definição da palavra "aberração".
Jean engoliu em seco e não pode dizer nada em sua defesa, pois Gucky já havia desaparecido.
— Vamos logo pessoal — animou-se Miguel Lourenzo. — Talvez o capitão da IGARA libere alguma cerveja para a nossa comemoração.
— Acho difícil — comentou o capitão Larry. — Teremos mesmo que nos contentar com o suco de cenoura do Gucky.
Os quatros componentes do 13º Grupo de Operações Especiais se encaminharam na direção da nave que pousava. Quase todos não viam a hora de chegarem na IGARA, tirarem seus trajes e respirarem ar fresco. Mas um deles caminhava um pouco mais devagar, sem pressa de chegar à nave e surpreendentemente quieto. A verdade é que nas próximas horas a vida não seria nada fácil para o tenente Jean Clidows.
FIM
Claudiney Martins
Abril de 2006